Soroban

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O que é Soroban? É um instrumento utilizado há séculos pelos povos orientais para realização de operações matemáticas, trata-se de um modelo de ábaco. Com ele é possível realizar até raízes cúbicas com a rapidez de uma calculadora eletrônica. Ele é um instrumento de cálculo, onde se pode efetuar todos os tipos de operações desde que apareçam numerais. Com ele, é possível realizar operações com até 27 dígitos, modelo transportável existente no mercado atualmente, o que supera as calculadoras convencionais que, geralmente, utilizam nove dígitos. O soroban moderno, mais usual, possui em média 23 colunas verticais com 5 contas cada uma. A conta na parte superior do instrumento possui valor 5, e separada por uma régua horizontal encontramos, na parte inferior, 4 contas, cujo valor de cada uma é um. Nessa régua existem pontos demarcados para servir de referência para localizar as ordens de cada classe, definindo e identificando a casa da unidade, dezena, centena, etc. Ao utilizar o instrumento o educando o posiciona sobre uma base plana, com a parte maior, ou seja, as quatro contas, voltada para o seu corpo. Com a mão esquerda segura o aparelho a fim de fixá-lo e não permitir deslizar. E o manuseia com a mão direita, utilizando apenas o polegar e o indicador; o indicador para baixar as 4 pedras inferiores e levantar e baixar a pedra de valor 5, o polegar da direita para levantar as 4 contas na parte inferior, a regra vale tanto para os destros quanto para os canhotos.

Soroban sofisticado da atualidade, One Touch, com dispositivo para zerar  o soroban, deixando-o pronto para o uso
Soroban sofisticado da atualidade, One Touch, com dispositivo para zerar o soroban, deixando-o pronto para o uso


Onde se originou o Soroban? A sua origem se perde nos mantos do tempo. É tão antiga quanto a história da humanidade. O certo é que se originou da tábua de calcular, o mais antigo dos ábacos, diante da necessidade da humanidade de negociar. Alguns dizem que o soroban ainda em estágio de ábaco, teve sua origem na Mesopotâmia. O que sabemos é que esta tábua de calcular passou por muitas mudanças até a sua configuração atual, evoluiu e sendo bastante utilizado pelos povos do oriente. A sua forma, tamanho, material e dispositivo, variou de acordo com os usuários, e hoje existem vários tipos de ábacos utilizados pelo mundo inteiro. E no Japão, o ábaco recebeu o nome e características especiais: Soroban.

Soroban Russo
Soroban Russo
Soroban de Bolso
Soroban de Bolso



Soroban japonês de 2 posições
Soroban japonês de 2 posições



Soroban Antigo Dobrável
Soroban Antigo Dobrável
Soroban Antigo em Rolo - Ligthroll
Soroban Antigo em Rolo - Ligthroll

O ábaco chegou ao Japão através da civilização chinesa. Lá chamado de “Suan-Pan”. O estudioso em suan-pan que o transformou em soroban, dizem ser o professor Kambei Moori, no ano de 1622, tendo tido vários adeptos em Kyoto, cidade tradicional do Japão; e apresentava o seguinte aspecto: duas contas na porção superior e cinco na inferior, possibilitando registrar valores de “0” a “15” devido ao sistema de cálculo hexadecimal utilizado na China, em cada coluna.

              Soroban Japonês antigo
Soroban Japonês antigo



              Soroban Japonês antigo
Soroban Japonês antigo
              Soroban Japonês antigo
Soroban Japonês antigo


A primeira transformação ocorreu ainda na época do Japão feudal, mas somente no desenho de suas contas, sua forma arredondada passou a ter aresta, cujo corte transversal ganhou a forma de um rombóide. Na época do imperador Meiji houve a segunda adaptação feita no Japão, foi a retirada de uma das contas superiores. Ainda assim, podia-se escrever desde o “0” até o “10” em cada ordem, totalizando 11 possíveis valores. A terceira e última transformação aconteceu entre 1935 e 1940, como o Japão utilizava o sistema decimal, apesar da diferença de ordens por classe, foi natural que a quinta conta da porção inferior fosse retirada, dando origem ao soroban moderno. Este modelo de soroban predomina até os nossos dias. De acordo com a necessidade os tipos variam, podendo-se encontrar sorobans para utilização de pessoas dotadas de visão e deficientes visuais. Esta evolução do soroban, tornando-o um instrumento cada vez mais preciso, ágil e de fácil manejo, acompanhou o desenvolvimento da atividade mental humana, capaz de efetuar cálculos mais complexos e abstratos, apenas visualizando o soroban ou a memorização de seu modelo. Podemos dizer que o ábaco é o pai dos atuais e modernos computadores. A Pascalina, como foi apelidada a primeira calculadora mecânica, foi criada por Pascal, inspirada nos movimentos do ábaco, em 1642. O modelo desenvolvido consistia numa caixa contendo rodas dentadas e engrenagens, que conforme se encaixavam produziam os cálculos visados.


O Soroban é apenas uma técnica? O manuseio dele é uma técnica de cálculo, e como técnica utiliza-se de regras, entretanto as regras são as próprias redescobertas feitas pelo próprio educando que então, aplica-as a cada situação diferente, solucionando cada dificuldade com entendimento. O ato de manusear o soroban é ativo porque mantém sempre a mente do operador em movimento ao se utilizar de normas identificando a sua aplicação conforme a situação. Há, portanto, uma operação mental que na prática torna-se mais rápida, porém isto não significa que a mente deixou de operar, logo o soroban não é apenas uma técnica.


O Soroban desenvolve o raciocínio? Ele não serve apenas para fazer cálculo. Ele tem seu valor pedagógico. Para nele operar com exatidão e rapidez é necessário ser atencioso, observador, ter boa discriminação auditiva e visual, boa memória, sobretudo concentração, controle motor, equilíbrio entre pensamento e a ação. Consequentemente ao manejar o soroban o educando desenvolve estas habilidades acima referidas, necessárias a qualquer aprendizagem eficaz. Através do soroban o educando adquire noção exata de quantidade, das ordens, estima cálculos, etc. O próprio educando avalia o seu desenvolvimento, das habilidades emocionais, sensoriais, motoras e intelectuais por meio das respostas obtidas. Ele reflete a razão do fracasso, sente o desafio e procura superar a dificuldade ou então se regozija com o sucesso e adquire segurança e o estímulo para progredir mais, cada vez mais. O soroban ajuda a desenvolver a engenhosidade da mente a partir do momento que o operador soluciona cada situação. Ao deparar-se com o cálculo, o educando faz operações mentais e estabelece relações, portanto raciocina, razão pela qual com a realização das operações o indivíduo torna-se, cada vez, mais hábil e ágil, favorecendo o desenvolvimento das habilidades, por conseguinte, melhora o seu desempenho. Praticando sempre, mantém sempre a mente em forma, uma maneira de efetuar a “ginástica mental”, portanto o manejo do soroban não é útil apenas para o desenvolvimento intelectual das crianças e jovens, mas para manter a mente dos mais velhos sempre ativa e sã. Foi utilizado muito como instrumento para calcular, mas hoje acrescido do seu valor pedagógico, os estudantes que praticam o soroban, conseguem maior sucesso na aprendizagem das centenas de “kanjis”, ideogramas do alfabeto japonês, tendo sido isto já provado no Japão. Está também provado que quem pratica o soroban tem a sua senilidade retardada e o “stress” afastado. O Shuzan, arte de manejar o soroban é praticado como forma de desenvolver as habilidades mentais. Disciplina a mente, promove a harmonia entre razão e emoção, a tão comentada “inteligência emocional”, oferecendo vários momentos de reflexão; a reflexão tão necessária para o progresso e evolução.



O Soroban no Brasil. Os primeiros sorobans introduzidos no Brasil vieram nas malas dos primeiros imigrantes japoneses em 1908 a bordo do navio Kasato Maru, quando ainda era o modelo que continha cinco contas na parte inferior. Esses imigrantes não tinham o intuito claro de divulgação, usando o soroban apenas nas suas atividades pessoais e profissionais, com o qual calculavam a sobrevivência das suas famílias. Embora soubesse que o seu uso fosse necessário e útil, deveras não houve quem ensinasse esta arte para as gerações novas. Em 1954, o Brasil começou a receber a leva de imigrantes pós-guerra, que desembarcaram trazendo na bagagem o soroban denominado “moderno”. O principal divulgador do soroban no Brasil, a partir de 1956, foi o professor Fukutaro Kato (ver perfil: Personalidades). Ele começou a lecionar a técnica operatória do soroban moderno e ajudou a fundar a Associação Cultural de Shuzan do Brasil, cujo objetivo principal é a divulgação dessa arte no país. E para tanto vem promovendo anualmente, desde 1958, Campeonatos de Soroban e/ou Torneio infantil e/ou Competições entre peritos em soroban. Realiza demonstrações do manejo do ábaco em escolas, e imprensas em geral, não medindo esforços para mostrar ao povo brasileiro que esta arte é imprescindível para o ser humano, pois por meio dela se consegue desenvolver as habilidades mentais, promovendo melhor desenvolvimento mental capaz de fazer cálculos matemáticos mentalmente e com perfeição e rapidez. Hoje existem vários seguidores, muitos discípulos do Prof. Kato, que divulgam a técnica operatória do soroban, tendo em vista a conscientização da capacidade nata do indivíduo e o desenvolvimento do intelecto bem como a sua utilização. Dizem que normalmente o ser humano é da lei do mínimo esforço, utilizando-se apenas 15% de sua capacidade.



Curiosidades sobre o Soroban. Desde 1854, após o tratado de amizade e comércio firmado com os Estados Unidos e mais tarde com vários países da Europa, o Japão estendeu seus tentáculos para a relação exterior. O impacto desses acontecimentos aumentou a pressão das correntes sociais e políticas que estavam minando a base estrutural feudal fazendo desmoronar em, 1867 o xogunato Tokugawa, vigente nessa época e, foi restaurada a plena soberania do imperador, na restauração Meiji de 1868. A era Meiji (até 1912) representa um dos períodos mais notáveis da história das nações. Sob o reinado do imperador Meiji, o Japão realizou em apenas algumas décadas o que levou séculos para se desenvolver no Ocidente - a criação de uma nação moderna com indústrias modernas, instituições políticas modernas e um novo e moderno modelo de sociedade. Nas várias reformas educacionais ocorridas no Japão, desde então, ora o soroban era considerado como matéria obrigatória dentro da grade curricular, sobretudo no ensino primário da época, ora era considerado como matéria optativa. E considerando também o subjugo de sua cultura às culturas estrangeiras, ao mesmo tempo em que o soroban ia sendo relegado, o cálculo por meio de lápis e papel foi tomando mais evidência. E após a segunda guerra mundial, sob o impacto da influência norte americana as calculadoras eletrônicas ganharam larga ênfase, enfatizando-se as suas vantagens, enquanto que o ábaco recebia críticas bastante negativas. Desde o início do século XX, o Japão já vinha promovendo campeonatos que visavam mostrar a importância do soroban para o desenvolvimento mental. Porém, o campeonato decisivo, considerado de vida ou morte para o reconhecimento do soroban, foi realizado no dia 11 de novembro de 1946. Esse confronto aconteceu no teatro Anipail, de Tókio, em que a máquina de calcular teve como operador o norte-americano tenente William Wood, e o soroban teve como operador o senhor Kiyoshi Matsuzaki. Nesse campeonato o soroban foi vitorioso e os americanos reformularam seu conceito sobre este instrumento, embora sem grande divulgação. No entanto sabe-se que nos Estados Unidos tem boa aceitação o uso pelos cegos. (portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/) No Brasil também, em vários momentos a validade do Shuzan foi questionada, fazendo-se necessária uma contraprova. Mas a demonstração mais relevante, talvez, tenha acontecido em 1968, quando a Associação Cultural de Shuzan conclamou o público para um desafio: Soroban x Qualquer tipo de calculadora. Apresentaram-se hábeis operadores, com as máquinas mais modernas existentes na época e, como esperado, os sorobanistas fizeram uma ótima apresentação, e tem sido assim até os dias de hoje, provando que o soroban jamais será ultrapassado e será obsoleto, pois não depende de pilha, de bateria, de chips, mas somente o uso da mente e sua capacidade total de uso ainda está longe de ser desvendada. O soroban e as máquinas calculadoras não são coisas que devam ser comparadas. Cada qual exerce a sua função junto ao homem na sociedade moderna, cada qual no seu devido lugar exercendo a sua função específica. O Soroban oferece envolvimento pedagógico ao educando e ajuda a solucionar pequenos cálculos na vida cotidiana, quando a operação for grandiosa, estimando o seu resultado; mas prioritariamente ativando a sua mente. Já, as máquinas são necessárias para os adultos, para cálculos mais complexos e ou para o cérebro “descansar” devendo gastar a energia mental para outras atividades que lhe sejam mais prementes, assim como os computadores são necessários para a solução de problemas mais vultosos. O reconhecimento do soroban na política educacional japonesa e, ainda, sua utilidade num contexto mundial mais amplo, foi fruto de uma luta incansável de seus disseminadores, a exemplo do professor Fukutaro Kato, que jamais se fez esmorecer.


Soroban para deficientes visuais O primeiro brasileiro a se preocupar com as ferramentas de que os cegos dispunham para efetuar cálculos em nosso país foi o professor Joaquim Lima de Moraes. Uma miopia progressiva fez com que ele interrompesse seu curso ginasial e após 25 anos, em 1947, matriculou-se na Associação Pró-Biblioteca e Alfabetização para aprender o Sistema Braille. Por ser a matemática uma de suas matérias prediletas, após aprender o Sistema Braille, voltou sua atenção para o modo de calcular dos cegos. Na época, existiam disponíveis o cubarítmo, a chapa e a prancheta Taylor. As dificuldades, observadas por Moraes, para os cegos operarem esses instrumentos foram impulsionadoras de sua busca por um aparelho que tornasse essa atividade mais ágil e prazerosa. Em suas pesquisas por um aparelho de custo acessível e que trouxesse facilidades e mais rapidez para a realização de cálculos por pessoas cegas, Moraes soube da existência do soroban ou ábaco japonês, ainda no modelo de cinco contas na base. Em seus primeiros contatos com esse contador mecânico, ele percebeu a leveza e mobilidade das contas nos eixos, constatando que seria difícil para uma pessoa cega manipular as contas que deslizariam a um simples toque dos dedos. Este primeiro obstáculo foi um incentivo para o aprofundamento de seus estudos. Partiu do próprio cubarítmo para estudar as 4 operações no soroban dos videntes, sondando formas de adaptá-lo e simplificá-lo para uso de pessoas cegas. E o ano de 1949 foi decisivo para as adaptações do soroban para pessoas cegas e de baixa visão. Em janeiro daquele ano, juntamente com seu aluno e amigo José Valesin, procedeu a modificação, que consistiu na introdução da borracha compressora, solucionando a dificuldade dos cegos em manipular esse aparelho. A inserção da borracha permitiu finalmente que os cegos pudessem empurrar as contas com mais segurança e autonomia para representar os valores numéricos conforme as operações a serem efetuadas. Criava-se, assim, o Soroban Moraes, ou sorobã, termo abrasileirado do soroban. Com o intuito de divulgar o uso e ensino do Soroban para pessoas cegas e registrar alternativas didáticas e metodológicas de seu uso, Moraes publicou em Braille a primeira edição do seu Manual de Soroban, com o apoio da Fundação para o Livro do Cego no Brasil (hoje Fundação Dorina Nowill para Cegos). Moraes não restringiu seus conhecimentos apenas dentro do nosso país, ele repartiu essas informações com diversos países não só da América Latina, mas dos Estados Unidos, Canadá e países da Europa. Movido por um espírito inquietante e instigador de todos os cientistas, revolucionou o ensino da matemática para pessoas com deficiência visual em muitos países por meio de uma adaptação bastante original, de caráter insuperável (portal. mec. gov.br/seesp/arquivos/). Com o sorobã, o deficiente visual penetra firme no mundo infinitesimal da matemática. Dominando-a, conquista as posições profissionais que mais exigem o conhecimento dessa ciência.

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