Período Nara
História do Japão |
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O período Nara (japonês: 奈良時代, Nara-jidai) é um período da história do Japão, que se estende de 710 a 794 d.C..
História
No início do século VIII, a capital do Japão foi transferida para a cidade de Nara. Até então a capital (ou sede do trono) se deslocava com freqüência na região, girando em torno das cidades de Nara, Kyoto e Osaka.
Durante esse período, a unidade nacional se fortaleceu, assim como o poder da corte imperial, que iniciou uma tendência pelo domínio privado da terra. Houve também a formação de santuários xintoistas e templos budistas. O culto budista teve um crescimento considerável, provocando um aumento do poder dos monges que, muitas vezes, chegaram a interferir na política.
A civilização japonesa avançou muito com a adoção da cultura chinesa e também com o desenvolvimento de padrões japoneses próprios na arte e criação literária. Entretanto, esse nível de cultura elevada era limitada a capital Nara, dominada pela nobreza.
Os mais antigos documentos existentes sobre mitologias e lendas do período pré-histórico do Japão foram publicados neste período, como o Kojiki (em 712) e o Nihonshoki (em 720). Em 760 ocorreu a publicação de Man'yōshū, antologia poética.
Este período também se destacou pela invenção dos silábicos japoneses Katakana e Hiragana, em meados de 750.

O início
Ao conquistar a estabilidade com o sistema político de Ritsuryô, a corte imperial mudou a capital para cidade de Heijô, a oeste de Nara, dando início à Era Nara, em 710.
A cidade de Heijô foi construída seguindo o modelo da capital chinesa da época, Changan, com ruas simetricamente dispostas como em um tabuleiro de xadrez. A cidade chegou a contar com mais de 100 mil habitantes e, nas ruas principais, perfilavam-se as mansões dos nobres, os templos budistas e também as casas do povo. Criaram-se feiras controladas pela corte, intensificando o comércio, que deu origem às primeiras moedas japonesas, embora no interior os tecidos e o arroz ainda desempenhassem a função de moedas.
A agricultura também ganhou novo alento com a difusão de ferramentas agrícolas e o progresso nas obras de irrigação. Além disso, os minérios são explorados em maior escala, tais como ouro da região de Mutsu (atualmente, províncias de Fukushima, Miyagi, Iwate e Aomori) e cobre da região de Suô (atualmente, província de Yamaguchi), fatos que também contribuíram para o início da cunhagem de moedas.
Com o aumento do poder da corte Yamato, sua área de domínio passou a abranger regiões mais longínquas. A corte dominou desde o povo Emishi, ao norte do Japão, até o povo Hayato, ao sul da ilha de Kyûshû.
Delegação enfrentava o perigo no mar para absorver a avançada cultura chinesaKentô-shi (Missão a Tang) Na Era Nara, para absorver a cultura avançada da dinastia Tang (China), foram enviadas várias missões.
Normalmente, a missão partia numa frota de 4 navios e era composta por 100 a 250 pessoas, embora uma missão tenha chegado a ter 500 pessoas. Nem o perigo das ondas revoltas do Mar do Japão ou do Mar da China desanimou essa delegação, composta por estudiosos, monges e bolsistas, que tinha uma grande vontade de aprender a cultura chinesa, nova e mais avançada. Assim, as missões a Tang contribuíram muito para o desenvolvimento político e cultural do Japão.
Ainda, nessa época, o Japão manteve intensa relação diplomática com Shiragui (Coréia) e Pohai, uma nação que existiu ao norte da China entre 698 ~ 926.
As mulheres no poder
A Era Nara também é conhecida como era das imperatrizes, já que houve muitas mulheres governantes que se destacaram por sua sabedoria e sagacidade. Nos 74 anos da Era Nara, cerca de 30 anos ficaram sob o governo das imperatrizes Genmei (707~715), Genshô (715~724), filha da imperatriz Genmei, e Kôken (749~758) que, mais tarde, assumiu novamente o poder sob o nome de imperatriz Shôtoku (764~770).
A construção da capital em Heijô (Nara), a cunhagem da moeda e a edição das obras Koji-ki (história do Japão) e Fudo-ki (geografia do Japão) ocorreram no mandato da imperatriz Genmei. No governo de Genshô, foram concluídos o Código de Direito Yôrô Ritsuryô (obra com alterações parciais do Taihô Ritsuryô) e o livro de história oficial do Japão, o Nihon Shoki.
Os 25 anos de governo do imperador Shômu (724~749) não podem ser contados sem mencionar sua esposa, a imperatriz Kômyo, filha do poderoso clã Fujiwara-no-Fuhito. Conhecida por sua alma caridosa, ela construiu instituições como Seyaku-in, para medicar e ajudar os doentes, e Hiden-in para abrigar os pobres, doentes e órfãos. Devota do budismo, Kômyo contribuiu para a construção do templo Tôdai-ji, conhecido pela imagem gigantesca do Buda.
A Era Nara, a exemplo de outros tempos governados por mulheres, conheceu a paz e o florescimento da cultura.
Cultura Tenpyô
Recebe este nome por ter florescido na era Tenpyô (729~749). Sob forte influência chinesa, foram criadas muitas obras búdicas e muitos templos foram construídos, entre eles, o famoso templo Tôdai-ji, que ainda hoje possui um acervo fabuloso de obras de arte, inclusive obras indus e persas que, passando pelo caminho da seda (Silk Road), foram levadas a Tang (China), e mais tarde, ao Japão.
O perseverante monge Ganjin (688 ~ 763)
Para fomentar o budismo, o Japão convidou Ganjin, monge chinês conhecido por suas virtudes, para divulgar os preceitos do budismo. Ele aceitou o convite e tentou chegar ao Japão, mas foi náufrago por cinco vezes, sendo levado de volta às praias de Tang, e ficou cego. Mesmo assim, ele não desistiu de propagar o budismo e, na sexta tentativa, ele conseguiu chegar ao Japão, em 753. Ganjin construiu, em Nara, o templo Tôshôdai-ji, dedicando os últimos anos de sua vida à propagação do verdadeiro budismo entre os japoneses.
O sofrimento dos camponeses
Devido à alta taxa de impostos, serviço militar obrigatório e recrutamento para trabalhos diversos, os camponeses moravam em casebres e levavam uma vida miserável, passando fome, mal tendo com que se alimentar durante o ano todo. Para aliviar a carga tributária, surgiram os falsificadores do registro de família, ou mesmo aqueles que abandonaram o campo, fugindo para outras terras.
Quando os arrozais começaram a dar sinais de abandono, ou tornaram-se insuficientes para a redistribuição, a corte consentiu a posse privada dos terrenos desmatados para o plantio. Em 743, com a lei de posse definitiva dos arrozais recém-explorados, que permitiu a posse de terras, se transformadas em terreno produtivo em três anos, nobres e templos começaram a aumentar as suas propriedades rurais, fato que corroeu, aos poucos, o alicerce do sistema político de Ritsuryô.
Com o objetivo de deixar os fatos do passado para a posteridade, foram compiladas no período obras de referência histórica, geográfica e literária do Japão, depois de anos de intenso trabalho
(Ilustrações: Claudio Seto | Foto: Fernando Takahashi/NB)
As primeiras obras de História do Japão (Kojiki e Nihon Shoki), de Geografia (Fudoki), e a antologia de poemas (Man’Yôshu) foram compiladas na Era Nara. Além delas, foram escritas outras obras de menor importância pelos clãs regionais ou a mando deles, já que o homem sempre teve o desejo de deixar para a posteridade os seus feitos.
Kojiki
É o livro de História do Japão considerado o mais antigo. A obra foi concluída em 712, a mando da imperatriz Genmei. Foi compilado por Ô-no-Yasumaro, com auxílio de Hieda-no-Are. Trata-se de uma obra em três volumes. No primeiro, são relatadas as peripécias dos deuses, desde a criação do arquipélago japonês; no segundo e terceiro volumes, as biografias dos imperadores, desde o primeiro soberano do clã Yamato, o imperador Jinmu, que subiu ao trono em 660 a.C., embora considerado pelos historiadores como um personagem fictício para legitimar a linhagem divina da família imperial, já que ele é considerado descendente direto da deusa do sol Amaterasu Ômikami. A obra termina com o governo da imperatriz Suiko (592~628).
No Kojiki, são relatados episódios como o do capricho da deusa do sol, Amaterasu Ômikami, que se escondeu na caverna deixando o mundo mergulhado nas trevas; a aventura de Susanô-no-Mikoto, que mata a gigantesca serpente de 8 cabeças usando sua astúcia; e outras histórias.
Nihon Shoki
Primeiro livro oficial de História do Japão, foi concluído em 720 e compilado pelo príncipe Toneri Shinnô, terceiro filho do imperador Tenmu, e muitos outros. É uma obra de 30 volumes, que começou a ser compilada na época do imperador Tenmu (673 ~ 686) e levou 39 anos para ser concluída. Como há muitas citações de obras chinesas e coreanas, acredita-se que houve a participação de muitos kika-jin (intelectuais estrangeiros naturalizados) em sua confecção. Assim como Kojiki, relata desde os tempos dos deuses até a imperatriz Jitô (645~702), esposa do imperador Tenmu, que ocupa o trono após a morte do marido (690~697).
Fudoki
Em maio de 713, a imperatriz Genmei ordena que sejam feitos relatórios de cada região (fudoki) seguindo os cinco itens abaixo:
• Colocar o nome nas comarcas formado por dois ideogramas auspiciosos; • Relatar todos os produtos (tudo que se colhe da natureza, excetuando-se os produtos agrícolas e manufaturados), plantas, peixes, aves e animais da comarca; • Detalhar as condições dos solos; se são férteis ou não; terras produtivas e as que possam se tornar produtivas; • Descrever montanhas, rios, campos e explicar a origem de seus nomes; • Anotar as lendas contadas por anciãos.
Dessa forma, devem ter sido entregues fudoki de mais de 60 regiões, mas foram conservados até os dias de hoje apenas 5 fudoki, a saber: de Izumo-no-Kuni, Hitachi-no-Kuni, Harima-no-Kuni, Bungo-no-Kuni e Hizen-no-Kuni. Dentre eles, o único que existe ainda hoje na íntegra é o Izumo-no-Kuni, fudoki concluído em 733, no qual constam as descrições de Izumo-no-Kuni, atual província de Shimane, e de seus templos xintoístas e budistas, montanhas, rios, estradas e produtos da natureza. Harima-no-Kuni (atual província de Hyogo) fudoki, um dos primeiros a ficar pronto, foi concluído por volta de 715, com registro de muitas lendas populares num estilo bastante singelo. O fudoki de Hitachi-no-Kuni (atual província de Ibaraki) deve ter sido concluído entre 717 a 724, e os de Bungo-no-Kuni (atual província de Oita) e de Hizen-no-Kuni (atuais províncias de Saga e Nagasaki), por volta do ano 739.
Man’Yôshu
É a antologia de poemas japoneses mais antiga, contendo mais de 4.500 poemas distribuídos em 20 volumes. Não se sabe ao certo quem reuniu e compilou todos os poemas, mas supõe-se que, no início da Era Nara, já houvesse um original reunindo os diversos poemas, ao qual o nobre Ôtomo-no-Yakamochi juntou a antologia de poemas da sua família, fez a revisão geral e concluiu a obra por volta de 760.
Nos últimos volumes, constam os poemas da autoria de Ôtomo-no-Yakamochi escritos após 746. Além dele, a antologia reúne poemas de imperadores, nobres, humildes camponeses, poetas da corte e outros tantos poemas de autoria desconhecida.
Destacam-se, por seu alto teor literário, os poemas de Nukata-no-Ôkimi, amada do imperador Tenmu, Kakinomoto-no-Hitomaro, poeta da corte, Yamanoue-no-Okura, filósofo de grande conhecimento que fez parte de uma das missões a Tang (China), e muitos outros poetas.
Os poemas foram escritos em kanji (ideograma), porém, levando em conta apenas as suas leituras, ou seja, utilizando-os apenas como fonogramas (kana). Assim, esse tipo de recurso da escrita recebeu a denominação de man’yô-gana, ou seja, fonogramas de man’yô-shu. Das escritas cursivas desses man’yô-gana, criaram-se, mais tarde, os fonogramas hiragana.
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